Há 40 anos aprovando alunos nos principais vestibulares do Brasil

Cybele Giannini foi minha professora no fim dos anos 1980. Por três anos, vivi com ela experiências incríveis, que marcaram minha vida. Até conhecê-la, não enxergava nenhuma possibilidade de prosseguir com os estudos. Não havia a menor condição de isso se tornar realidade até conhecer seus métodos.

Foi um tempo de intenso aprendizado, em que me beneficiei da didática dela. Eram seminários por meio dos quais minha turma chegava a ler até cinco livros por mês, sem contar redações todas as semanas, sempre cobradas, corrigidas e comentadas. Fizemos teatro e aprendemos a celebrar a vida porque sobre a vida a Cybele também nos ensinou muito!

Ela juntava dinheiro, fazia vaquinhas, multava-nos em nossos erros gramaticais e guardava o dinheiro para nos levar ao teatro, ao museu, à Bienal do Livro, ao samba e ao karaokê. Mostrou--nos como ler nas entrelinhas e absorvermos o melhor da literatura. Nas obras de vários gêneros, nas poesias e letras da música popular brasileira, só víamos a Língua Portuguesa.

Cybele nos conduziu por três anos, semeando conhecimento em Gramática e Literatura, despertando nossos sonhos mais secretos e até desconhecidos de alguns alunos. Para fechar esse ciclo, no último ano, ela passou a vir lá do centro da cidade, onde morava, aos sábados e domingos, para nos dar aulas de reforço e revisar tudo o que já nos lecionara para nos preparar para o vestibular. Vinha com os próprios recursos e cheia de vontade de ensinar, o que, àquela época, não percebíamos como grande sacrifício porque ela não deixava transparecer. O que víamos era uma mulher jovem e empoderada, uma professora com um magnetismo que fazia com que quiséssemos estar sempre perto dela e absorver cultura. Sobre tudo isso hoje digo: - Que trabalho, meu Deus!

O fato é que, diante de tamanho esforço, dedicação e demonstração de amor da nossa professora, não nos cabia outra atitude a não ser seguir em frente. Foi o que a maioria de nós fez. Eu prestei vestibular e entrei em Jornalismo, minha primeira e única opção, sem necessidade de cursinho. Cheguei aonde jamais poderia sonhar e só o consegui porque a Língua Portuguesa me foi apresentada à custa de muito esforço e da forma mais sublime possível na forma de um amor incondicional de quem amava instruir e amava a quem instruía: uma verdadeira entrega, um legado.

Todos os romances que a Cybele nos fez ler, assim como todas as poesias e histórias que ela nos apresentou, e todos os lugares a que nos levou, enfim, toda a devoção, ainda hoje representa muito para mim. Tanto é que, se pudesse escrever meu epitáfio, registraria: "Aqui jaz alguém que amava escrever. Isso, sim, sempre foi essencial para mim, tão importante quanto o ar que respiro. O curioso é que, até conhecer minha professora, eu desconhecia isso!"